Dono de um dos blogs mais premiados da internet e seguido por mais de um milhão de pessoas no twitter, se tem alguém no mundo que sabe como usar as redes sociais a seu favor é o jornalista e âncora do programa CQC (exibido pela Band) Marcelo Tas. O espaço virtual é, para ele, mais um meio de comunicação para soltar a sua voz, obter informações e, principalmente, filtrá-las. E defende que as pessoas façam o mesmo. Temos de tomar consciência da época que a gente vive para usar as tecnologias como aliadas, acho que não adianta muito pensar se é positivo ou não, o fato é que não há volta, escancarou. O jornalista esteve em Sorocaba na quarta-feira passada para um bate-papo com estudantes do colégio Objetivo e a comunidade sobre as mídias sociais e de que forma as novas tecnologias estão, cada vez mais, transformando as relações.
Durante entrevista coletiva, Marcelo Tas comentou que a internet não é uma ameaça ao jornal impresso, pelo contrário. Na minha visão, o profissional de jornalismo tem um futuro precioso. Quanto mais excesso de informação, mais você precisa de alguém que a selecione. As pessoas querem discernimento, por isso o jornalista é cada vez mais necessário. O jornal que publica notícias do dia anterior sim, este acabará, mas o veículo que se interessar em entender as notícias e contextualizar, eu talvez tenha interesse em ler no papel. O jornalista não é um vendedor de papel impresso, o jornalista vende o jornalismo, o discernimento do que acontece no mundo, e isso é o que está acontecendo com o The New York Times, afirmou.
Conforme Marcelo Tas, antigamente o jornalista valorizava o furo e hoje isso acabou, não tem mais valor, isso porque o tal do furo pode estar nas mãos do internauta, que presenciou determinado acontecimento e imediatamente, do celular, postou em seu blog. Portanto, o jornalista não é mais pago para dar em primeira mão e sim para uma reportagem completa. A única ressalva que o âncora do CQC faz é com relação à TV, que na sua opinião, abre pouco espaço para a ousadia. Acho isso uma burrice secular, a TV joga muito na defensiva, é covarde. São poucas as apostas mais ousadas como o Casseta e Planeta, que teve início nos anos 90, e faz um jornalismo com humor. O CQC estreou há três anos e tem uma boa audiência, isso mostra que o público está preparado para mais. Toda ousadia depende de uma dose de coragem e outra de loucura, o problema é que temos empresários muito caretas, disse.
Por falar em TV, Marcelo Tas não perdeu a oportunidade de sinalizar que as concessões ainda são dadas de maneira muito torta no Brasil. Durante o governo do José Sarney, que aliás até hoje é um cara de muito poder no país, as concessões foram muito distribuídas, principalmente para igrejas, sem nenhum compromisso com a constituição, ressaltou.
E falando de Sarney, Tas lamentou a censura que a imprensa vem sofrendo. Eu não acredito que no século 21 a gente tenha de conviver com a censura no Brasil. Isso não aconteceu só com o caso de censura do Sarney ao Estadão, mas com blogueiros no Amapá, também por causa do Sarney, e o CQC inclusive sofre muita pressão. Esse é um assunto grave. No início acharam que a gente era moleque, sem força, mas a nossa força veio da nossa audiência e do patrocinador, tem gente que acha que não, mas ter patrocinador também te dá liberdades, e eles nos garantiram a força financeira e também na área da saúde, para dar assistência aos meninos que são agredidos na rua, então ainda paira esse fantasma do controle, da censura e truculência no Brasil. Por isso eu afirmo que em cidades que tem só um veículo de comunicação a democracia corre risco.
A base do CQC
Marcelo Tas ficou conhecido pelo personagem humorístico Ernesto Varela, um repórter fictício que ironizava personalidades políticas logo no fim da ditadura, em 1985, com perguntas desconcertantes. Ficou célebre ao questionar Paulo Maluf, que virou as costas e deixou a sala em que estavam: Muitas pessoas não gostam do senhor, dizem que o senhor é corrupto. É verdade isso, deputado?, perguntou. Naquela época, Tas nem imaginava que essa seria a base do CQC. Fico muito grato com as oportunidades que surgem, quando você lança uma ideia as coisas vão acontecendo. O CQC tem uma boa audiência e tudo hoje em dia é amplificado nas redes digitais, hoje a notícia não fica só na TV, rádio ou jornal, nem que você queira, disse.
A respeito do que sentiu antes de ter feito a famosa pergunta ao Maluf, Tas confessou que toda vez que tem de fazer uma coisa importante sente um frio na barriga. Isso exigiu de mim uma coragem que eu não tinha, tive de descobrir e arrancar de algum lugar. E acontece até hoje, esta quarta mesmo foi um dia que eu acompanhei uma entrevista com o Lula e achei ridículo. Estavam participando apenas blogueiros simpatizantes, era um teatro e eu denunciei. Ninguém tem liberdade para perguntar a Lula. Tive de ter muita coragem para expor o que estava pensando. Eu aprendo com as pancadas e se elas vierem com coisas que você acredita, fica mais saudável, revelou sua filosofia.
Marcelo Tas também passou o dia acompanhando as ondas de violência no Rio de Janeiro pela internet, preocupado com sua filha, que faz faculdade lá. Eu estava fazendo isso na sala ao lado, mas poderia estar em qualquer lugar. É a internet. Cada um de nós deve aprender a lidar com esse meio de informação. Tem gente que acredita em tudo o que lê ou desconfia de tudo o que lê, mas as mentiras agora têm pernas mais curtas, antes era possível manipular a informação, hoje isso não acontece mais. Aliás, o poder está cada vez mais na mão da pessoa que está do outro lado, selecionando as notícias, então temos de parar de subestimar a mudança que está acontecendo. Os adultos acham que as crianças sabem mexer melhor com celular, mouse, mas elas não são mais inteligentes, é que elas não têm medo de errar, por isso usam melhor do que a gente. Acho que o adulto aproveita pouco dessa revolução.
Entre as atuações de maior destaque de Marcelo Tas, além do repórter ficcional Ernesto Varela, estão a participação como ator e autor das séries Rá-Tim-Bum (TV Cultura), onde ficou conhecido como o professor Tibúrcio, a criação do Programa Legal, com Regina Casé, os Telecursos da TV Globo, e agora o comando do CQC.
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